Leia o artigo “Pedaço de mim”, do neurocientista Sidarta Ribeiro, para responder às questões 19 e 20 . A cada ano, milhões de pessoas passa...
Leia o artigo “Pedaço de mim”, do neurocientista Sidarta Ribeiro, para responder às questões 19 e 20.
A cada ano, milhões de pessoas passam pela experiência da perda traumática de uma extremidade corporal. Frequentemente, as penas psicológicas e sociais da amputação vêm acompanhadas de uma dor mais bruta, fruto da percepção fantasmagórica do pedaço perdido, mão ou pé ausente doendo em pesadelos de sono e vigília. Pulsando, queimando ou coçando, o membro fantasma reclama da incompletude do mutilado. Um corpo que já não se representa como é, e sim como foi.
Decepado de forma acidental, o membro leva consigo terminais nervosos que não se reconstituem no coto. Disso resulta o desequilíbrio de vastos circuitos neurais que cartografam a interface com o ambiente, chegando até o âmago do sistema nervoso. As regiões cerebrais correspondentes ao membro amputado são invadidas e loteadas por representações vizinhas, num processo que pune a falta de atividade neural com a inexorável substituição de sinapses e células. Tal plasticidade remapeia a relação do corpo com o mundo, provocando a sensação fantasma. Um poeta diria que o cérebro transforma em incômodo a saudade do pedaço que perdeu. Será possível reverter esse processo?
Um estudo de 2004 com pacientes biamputados submetidos a transplantes de ambas as mãos mostrou que o cérebro é capaz de se reorganizar topograficamente mesmo após vários anos de amputação. Os resultados são extremamente animadores do ponto de vista clínico, pois indicam que o córtex cerebral, anos depois da drástica modificação induzida pela amputação, continua capaz de plasticidade plena. A incorporação harmônica de uma parte alheia devolve ao paciente sua função original, fundindo duas pessoas num corpo novo e maravilhoso. Nada se perde e tudo se transforma num milagre da cirurgia e da reabilitação em que o pedaço afastado renasce útil, matando a saudade do corpo exilado de si. Regressam os sinais, recria-se o mapa, segue refeita a vida.
(Limiar: ciência e vida contemporânea, 2020. Adaptado.)
SANTA CASA 2023:
a) Considere as seguintes frases extraídas do artigo:
1. “A cada ano, milhões de pessoas passam pela experiência da perda traumática de uma extremidade corporal.” (1º parágrafo)
2. “Pulsando, queimando ou coçando, o membro fantasma reclama da incompletude do mutilado.” (1º parágrafo)
3. “A incorporação harmônica de uma parte alheia devolve ao paciente sua função original, fundindo duas pessoas num corpo novo e maravilhoso.” (3º parágrafo)
Em qual dessas frases o autor faz uso do recurso retórico da personificação? Justifique sua resposta.
b) Reescreva na voz ativa o trecho “As regiões cerebrais correspondentes ao membro amputado são invadidas e loteadas por representações vizinhas” (2º parágrafo).
GABARITO:
a) Em “o membro fantasma reclama da incom - pletude do mutilado.”, há personificação, quando se afirma que o membro amputado “reclama”, considerando que a ação de reclamar é uma característica humana que foi dada a um “membro fantasma”.
b) A oração “As regiões cerebrais correspondentes ao membro amputado são invadidas e loteadas por representações vizinhas” está na voz passiva analítica (verbo ser seguido de verbo no particípio seguido de agente da passiva introduzido pela preposição por). Passando-a para a voz ativa tem-se:
Representações vizinhas (agente da passiva passa a sujeito) invadem (verbo no presente com eliminação do verbo ser) as regiões cerebrais correspondentes ao membro amputado (sujeito passa a objeto direto do verbo invadir).
QUESTÃO DISPONÍVEL EM: